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Cadê Cadê entre os Destaques Emília


O Guia dos Destaques Emília 2023, edição comemorativa de 10 anos, foi oficialmente lançado. E para nossa alegria, "Cadê Cadê" foi contemplado na Categoria Livro Arrebatador.


O Instituto Emília, que é responsável pela Revista Emília, realiza um trabalho primoroso no campo da literatura. Desde 2013, seu guia vem se revelando, mais e mais a cada ano, um material de formação, criação de repertório e pesquisa que fica disponível no site da revista. É um catálogo super completo que explica os critérios de seleção e traz textos de especialistas sobre cada livro escolhido nas três categorias: Arrebatadores, Imperdíveis e Recomendáveis.


Livros Arrebatadores -- categoria na qual "Cadê Cadê" foi premiado -- traz "obras que se destacam acima da média e que oferecem experiências de leitura únicas, por sua densidade e originalidade literária, que resultam em fruição estética, no caso dos livros de ficção, ou em uma experiência de aprendizado e aprofundamento em algum tema, tratando-se dos livros de não ficção.".


Leia aqui a análise do livro de Xadalu Tupã Jekupé e Paula Taitelbaum que tem tradução para o Guarani de Ara Poty / Maria Ortega:


Na capa, entre o verde e amarelo vibrantes, a imagem de uma menina indígena que mira o leitor. O título, Cadê cadê, sugere perguntas e faz um convite para abrirmos o livro e vermos com os olhos de Cunhatã. Nas primeiras páginas, o leitor encontrará uma imagem habilmente ampliada, pelo uso do efeito de zoom, com o seguinte trecho: “Cadê? Cadê a semente?” A interação entre texto e imagem, num primeiro momento, não revela respostas e isso faz com que um enigma seja lançado no início da narrativa. À medida que o leitor avança na leitura, descobertas são feitas e muitos elementos simbólicos dos povos originários são por ele percebidos. O texto, escrito pela poeta Paula Taitelbaum e traduzido para a língua guarani, pela pedagoga Ara Poty, surpreende, de modo inusitado, pelo jogo com as palavras e, também, pelas perguntas e respostas que fazem provocações para o leitor ampliar o olhar diante da situação dos povos indígenas na contemporaneidade. O artista visual urbano indígena Xadalu Tupã Jekupé nos arrebata com suas coloridas ilustrações e, a cada dupla de páginas, emprega diferentes enquadramentos para criar composições sofisticadas, apresentando o ponto de vista de Cunhatã, mulher indígena que sai da aldeia para tentar vender, no centro da cidade, seu artesanato. As imagens mostram apenas os pés dos transeuntes e, assim, ressaltam o seu lugar de vulnerabilidade e invisibilidade. A arte de Xadalu reforça as questões expostas no texto e revela mais informações para ampliar a discussão: Por que as faces das pessoas não aparecem? O está “por trás” dos fragmentos de cerâmicas e pedras decoradas presentes no solo onde a cidade foi construída? A última pergunta, “Cadê? Cadê a floresta?”, é a única que aparece sem resposta, mas as ilustrações oferecem elementos para que o leitor possa produzir sentido e desenvolver explicações para os questionamentos Um livro que fala de semente, que vira floresta, que vira cidade. Mas, indo além, um título capaz de destacar a urgência da reflexão acerca da importância da cultura indígena e dos direitos daqueles que dela fazem parte. Afinal, esta narrativa é um retrato nada ficcional da difícil e complexa realidade vivenciada pelos povos originários no Brasil. [Bárbara Passos]





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