Revoada de ideias
Cadê Cadê

Escrito por Paula Taitelbaum
Ilustrado por Xadalu Tupã Jekupé
A estrutura do texto de Cadê Cadê remete à oralidade de uma parlenda. A partir da brincadeira de encadear elementos em um jogo de perguntas e respostas, o livro vai abrindo uma série de reflexões propostas pelo texto e pela ilustração.
Parlenda é um texto rimado e ritmado, geralmente utilizado em brincadeiras infantis, que faz parte do folclore brasileiro. É uma forma de entretenimento e aprendizado, vem da tradição oral e segue sendo transmitida oralmente de geração em geração.
Enquanto o texto da obra parte do pequeno (uma semente) para chegar na pergunta sobre a floresta (pergunta cujo silêncio da resposta escrita é significativo); a ilustração começa no grande/ no zoom e vai tomando distância, nos convidando a reconfigurar nosso olhar sobre a cidade, sobre a (in)visibilidade de Cunhatã e sobre a noção de margem.
Se a informação inicial que temos sobre Cunhatã é que ela está à margem, vendendo artesanato indígena em uma cidade cinza, à medida que tomamos distância, vemos que a menina guarda o elo com a tradição do seu povo, com a cor, com a simbologia de sua cultura, com a natureza, com a floresta que foi sepultada pela cidade. A partir desse olhar, Cunhatã se reconfigura no espaço: ela está no centro e quem está à margem são as pessoas que perderam o vínculo com a natureza e adquiriram o mesmo tom cinza da cidade. Cunhatã traz em si a semente que pode reflorestar nosso modo de vida.
As ilustrações do livro respondem as perguntas feitas pelo texto a partir do olhar de alguém que pertence aos povos indígenas. Xadalu é um artista que luta contra o apagamento de sua cultura, trazendo cores, formas e elementos do universo guarani. A arte de Xadalu é combativa e poética. Ela é rica em elementos a serem lidos e nos convida a buscar respostas para as perguntas que temos silenciado ou que nos silenciam como: Cadê? Cadê a floresta? Ela nos convida a explorar a cultura indígena.
O livro é uma edição bilíngue: português e guarani, que vai permitir que crianças guaranis possam ler ou ouvir a história em sua língua materna. A voz indígena se amplia de todas as formas na narrativa.

Durante a leitura
Se deixe levar pelo ritmo poético do texto. Explore a sonoridade das perguntas feitas.
Mostre as páginas com calma para que a criança relacione as ilustrações com o que foi lido.
Mostre que o texto também está escrito na língua Guarani. Deixe que a criança ou as crianças explorem essa linguagem.
Cadê Cadê oferece material riquíssimo de imagens. Convide a criança ou grupo de crianças a observar as cenas representadas. Comente situações que aparecem nas cenas. Comente o movimento das ilustrações. Instigue elas a pensar como a tomada de distância, que tira o foco do detalhe e amplia a cena –modifica nossa visão da história.
Enquanto lê, você pode fazer pausas para ressaltar os pontos que acha importante e para estimular a participação das crianças por meio de perguntas que as levem a refletir sobre o espaço dos povos originários na cidade, sobre o conceito de margem, sobre a destruição da floresta...
Explore com a criança ou com as crianças a última página da obra: O que é? O que é? Ela explica os símbolos que estão presentes em uma ilustração muito importante para o desvendamento de sentidos da obra.
Se a leitura for feita em grupo, cada criança vai ser impactada de forma única pela história narrada porque cada uma delas vai estabelecer pontos de identificação com sua vida. Se a leitura for feita para uma turma de crianças, esse momento de troca oportuniza que as crianças aprendam a se expressar, interagir e conhecer o ponto de vista de cada colega, fortalecendo o grupo e dando mais segurança para assumirem riscos próprios do processo de aprendizagem.
Depois da leitura
Estimule as crianças a pesquisarem sobre os elementos da cultura indígena que aparecem mencionados na última página do livro. Qual a história de Pindó? Por que o beija flor (MAINO,I) é sagrado? Quem foi Nhamandu? Se o livro for lido com uma turma de crianças, você pode formar grupos entre elas e encarregar cada grupo de uma pesquisa. Incentive que ilustrem suas produções. Incentive que compartilhem suas descobertas.
Pesquise com as crianças a respeito dos animais esculpidos em madeira, que são característicos do artesanato indígena. Elas podem se inspirar nessas criações para produzir animais a partir de massinha de modelar, biscuit ou argila. Conforme a idade dos leitores ou a disponibilidade de material.
Explore a parlenda: “cadê o toucinho que estava aqui”? comparando sua estrutura com a estrutura do texto de Cadê Cadê. Mostre outras parlendas com a mesma estrutura. Depois, estimule a criança ou o grupo de crianças a inventar um texto nos moldes de uma parlenda encadeada.
Estimule as crianças a se familiarizem com a sonoridade das palavras guarani, conhecendo outras produções culturais indígenas – como, por exemplo, o Coral Arai Ovy, composto por crianças, jovens e adultos da Tekoa Ka’ Aguy Porã, primeira retomada Mbya Guarani no Rio Grande do Sul, localizada em Maquiné, RS. As músicas são lindas e as crianças vão se identificar ao ouvir a voz de outras crianças.
Para complementar
Para saber mais sobre Xadalu Tupã Jekupe e se preparar para mediar a leitura da obra, assista ao documentário produzido pelo Instituto Arte na Escola.
música, Ensino Fundamental - anos iniciais, Leitor iniciante, Leitura compartilhada



