Revoada de ideias
Fantasmagoria e Primeiros Poemas de Lewis Carroll

Escrito por Lewis Carroll
Ilustrado por AB Frost e Lewis Carroll
Tradução de José Francisco Botelho e Paula Taitelbaum
Prefácio de Caio Riter
A obra se divide em duas partes. Na primeira delas, “Fantasmagoria”, o mais longo poema de Lewis Carroll é apresentado aos leitores. É um poema narrativo que relata uma situação inusitada: Um homem chega em casa e percebe que não está só. Ele descobre que está acompanhado por um fantasma resfriado. No diálogo que se desenrola entre eles, o fantasma explica como os fantasmas se dividem pelas casas; fala das regras de comportamento que devem ser seguidas pelas assombrações ao interagir com os humanos, entre outros assuntos.
Imaginar algo tão pouco flexível - como um conjunto de regras - aliado a um universo fantástico propõe o encontro da realidade com o absurdo. Propor esse encontro de várias formas: seja pelas situações apresentadas; seja pelo uso das palavras em jogos que nem sempre precisam fazer sentido é uma das marcas que Carroll. Marca que começa a se desenhar desde os seus primeiros poemas.
A segunda parte da obra é dedicada a esses primeiros versos do autor, escritos quando ele tinha 13 anos para alegrar seus irmãos mais novos. Primeiros versos reúne poemas que brincam com as palavras a partir da rima e do ritmo, que exploram situações que mesmo quando cotidianas, como a relação entre irmãos, são tratadas de forma insólita e divertida. Quem imagina um poema cujo um irmão é feito de isca em uma pescaria pelo outro ou uma poesia que ao falar da relação de um irmão com a irmã termina com a seguinte moral: jamais ensopes tua irmã.
Primeiros poemas revela muito sobre a literatura para crianças que circulava na época – repleta de lições de moral, não somente sugeridas, mas descritas claramente ao final dos textos – para não deixar dúvida alguma no leitor. Carroll faz uso dessa estrutura em alguns poemas, colocando uma lente de aumento no excesso de regras de conduta. E, claro, pitadas de absurdo na lista do que não pode ser feito. A entrelinha crítica que se abre, abre o poema para outras interpretações – que vão nascer do sentido desfeito da frase feita.
A obra tem ilustrações originais de A.B. Frost na primeira parte do livro e do próprio Lewis Carroll na segunda. Algumas imagens passaram por intervenções – como explicam Sandro Fetter, designer gráfico da obra e a Tradutora Paula Taitelbaum, que também é ilustradora e editora. Os detalhes sobre as mudanças realizadas estão no final do livro no texto: Imagens em ação.

Durante a leitura
Explore o título do livro. O que é será que significa fantasmagoria?
Pergunte quem conhece Alice no país das maravilhas. Destaque o fato do autor de Fantasmagoria e Primeiros Poemas ser o mesmo.
Se deixe levar pelo ritmo dos poemas. Explore a sonoridade e os jogos com as palavras.
Mostre as ilustrações e como elas dialogam com os poemas
Ao ler Fantasmagoria, explore a sequência narrativa do poema. Converse sobre as personagens, sobre a relação que elas estabelecem – e sobre como essa relação se transforma.
Converse sobre as regras de comportamento que orientam a chegada de um fantasma a uma casa. Mostre como Carroll brinca com normas ao adaptá-las a uma situação fantástica. Qual será a intenção do autor nessa brincadeira?
Mostre as ilustrações e como elas dialogam com os poemas
Explore as palavras que são desconhecidas pelo leitor. O vocabulário dos poemas tem muito a ser descoberto.
Ao ler os poemas da segunda parte, explore o conceito de moral da história (uma frase que sintetizava o que o leitor deveria aprender no fim da leitura – que tinha um tom adulto e impositivo). Como Carroll utiliza a moral da história em seus poemas?
Explore as situações onde a falta de sentido é o grande sentido dos poemas.
Depois da leitura
Sugira a criação de um manual de normas, que leve a uma escrita para um rumo fantástico ou absurdo. Você pode sugerir a criação de um Manual de normas para extra terrestres visitarem a terra ou um Manual de normas para que adolescentes mantenham seus quartos impecavelmente bagunçados, por exemplo. Estimule que os manuais sejam ilustrados. Se a proposta for realizada com uma turma, estimule que compartilhem suas criações.
Você pode propor que a hierarquia da sociedade a qual pertencem os fantasmas – descrita em Fantasmagoria– seja representada em uma ilustração. Além das personagens que aparecem descritas, o adolescente pode acrescentar personagens que venham de filmes, seriados, outros livros – imaginado onde elas estariam nessa organização social. Esse lugar seria estático? Que formas arranjariam para ocupar outras posições?
Pesquise fábulas (um tipo de texto que tem a moral da história explicita no final) e copie uma série dessas frases em diferentes pedaços de papel. Dobre esses papéis, coloque dentro de um pote e deixe que o adolescente ou cada um dos adolescentes da turma retire um papelzinho de dentro desse recipiente. A partir da moral da história que foi selecionada, estimule a criação de um poema em que essa frase caiba como moral. As criações podem ser apresentadas em um sarau – no caso da proposta ser realizada em grupo. No final das apresentações, as fábulas de onde as frases foram retiradas também podem ser lidas - para que se observe como a mesma frase foi usada em contextos e tempos diferentes. Lembrando que a moralidade das histórias está ligada aos valores vigentes do tempo histórico onde foram criadas. O que será que se mantem? O que muda?
Estimule a criação de um poema, cuja moral da história seja Comporte-se. Devem fazer parte do poema: dois versos que não façam sentido e dois versos que contrariem a moral da história.
Para complementar
Dicas de filmes para seguir na temática de Fantasmagoria e Primeiros Poemas de Lewis Carroll:
A Noiva-Cadáver, Tim Burton
Viva – a vida é uma festa, animação Disney Pixar
Os fantasmas se divertem, Tim Burton
Para seguir com Carroll:
Que tal compartilhar a leitura de um capítulo de Alice no país das maravilhas? Busque uma edição feita a partir da tradução do texto original. Há ótimas opções. Mostre que Alice é um livro para todas as idades e quanto mais a gente cresce, mas sentidos percebe na obra.
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