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Entrevista com Juniper Fitzgerald, autora de "Como as mamães amam seus bebês"


Em 2018 a escritora e editora Rachel Aimee entrevistou Juniper Fitzgerald, autora de “Como as mamães amam seus bebês”, para a Mutha Magazine. Na entrevista, Juniper – que já trabalhou como profissional do sexo – fala sobre as experiências e motivos que a levaram a escrever este livro. Confira alguns trechos da conversa:


RACHEL AIMEE: Quando você teve a ideia desse livro, e como foi o processo de escrevê-lo?


JUNIPER FITZGERALD: Pensei sobre escrever um livro infantil sobre profissionais do sexo antes mesmo de me tornar mãe. Encarei muitos estigmas por causa da minha profissão, mas sempre fui consciente de que esse preconceito em nada se comparava com o preconceito que profissionais do sexo que eram mães sofriam. Quando eu era uma dançarina jovem e ingênua, lembro de estar no camarim do clube de strip onde trabalhava, ajudando uma colega que estava com o lábio inchado e machucado. O marido dela era um homem abusivo e havia batido nela logo antes do trabalho. Ele já havia quebrado sua mandíbula certa vez. E eles tinham filhos juntos. Nunca vou esquecer que sua única razão para não abandonar ele era o medo de que ele usasse sua profissão para lhe tirar a guarda dos filhos.

E ela não estava errada por sentir esse medo – vemos repetidamente que homens violentos são considerados pelo sistema como pais mais viáveis do que mulheres profissionais do sexo, atuantes ou não. Isso é um comentário sobre relações heteronormativas, mas é importante estar ciente da maneira como todas as pessoas que não se identificam como homens na indústria do sexo são punidas por seus companheiros homens cis e, também, pelo Estado. O Estado reforça os interesses do homem cis branco.


Então eu e meu parceiro começamos a ter problemas na nossa relação: eu basicamente não dormia devido ao medo e à ansiedade de que ele um dia pudesse usar meu trabalho para tirar a guarda da minha filha de mim. Os detalhes são um tanto dolorosos e pessoais, basta dizer que se tornou imperativo, para mim, escrever esse livro. Eu não quero que uma mãe profissional do sexo passe um segundo mais temendo a perda dos seus filhos.


RACHEL AIMEE: Por que você acha que é importante para as crianças verem profissionais do sexo representadas nos livros que leem?


JUNIPER FITZGERALD: O livro ainda nem foi lançado e já recebi e-mails e mensagens de mães profissionais do sexo expressando sua gratidão por um livro infantil no qual elas finalmente são representadas. Num nível mais metafórico, penso muito na dicotomia Virgem/Prostituta. A toda hora, na verdade. É uma grande infelicidade que, ao redor do globo, mulheres sejam sempre vistas através das lentes da sua sexualidade. E o que isso quer dizer, essencialmente, é que quanto mais ativas sexualmente somos, ou quanto mais sexuais somos percebidas, menos valor temos e menos maternal aparentamos. “Mas você é uma mãe!” é algo que se houve muito quando se é uma mulher vista como sexual e mãe. Kim Kardashian é um bom exemplo. Quando ela posta fotos pelada nas suas redes sociais, tem-se a perniciosa insistência de que ela não deveria ser tão sexual porque tem filhos.


Tenho muitas amigas que são profissionais do sexo e mães e a quantidade de insultos que recebem (por e-mail ou outras plataformas) chocaria até os mais conservadores. Meu coração parece se partir ainda mais quando esses insultos vêm de outra mulher, de outra mãe. Mas claro, é isso que o patriarcado faz - internalizamos ideias horríveis sobre o feminino e envergonhamos outras mulheres para que sejamos mais virtuosas na visão dos homens cis brancos no poder. Quero dizer, tem uma razão para que a maioria das histórias religiosas sobre a criação comecem com o nascimento de um homem extraordinário, parido por uma virgem - para que o homem seja extraordinário, não pode ser atrapalhado pela sexualidade da mulher. Pessoas de todos os gêneros foram treinadas para odiar mulheres e suas expressões sexuais, sendo essas expressões em prol do puro prazer pessoal ou a maneira de colocar comida na mesa.


RACHEL AIMEE: O livro saiu como você imaginava?


JUNIPER FITZGERALD: O livro é mais maravilhoso do que eu poderia imaginar. O trabalho de Elise Peterson é profundamente emocionante. As imagens são tão densas que, quando justapostas com minha escrita simples, torna o livro ao mesmo tempo acessível e complexo.



“Como as mamães amam seus bebês”, de Juniper Fitzgerald, foi lançado no Brasil em maio de 2022 pela Editora Piu, com ilustrações de Elise Peterson e tradução de Lízia Bueno.






Fonte: https://www.muthamagazine.com/2018/02/the-other-is-my-mother-an-interview-with-juniper-fitzgerald-author-of-how-mamas-love-their-babies/

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